{por Marcelo Marques}
“A menos que ‘nos tornemos a mudança que desejamos ver acontecer no mundo’ (como diria meu avô), nenhuma mudança jamais acontecerá. Infelizmente, estamos todos esperando que os outros mudem primeiro”. Arun Gandhi, neto de Mahatma Gandhi, no prefácio do livro Comunicação não-violenta.
Com o subtítulo técnicas para aprimorar relacionamentos
pessoais e profissionais, o livro de Marshall B. Rosenberg oferece um
método eficaz para nos tornarmos a mudança que desejamos ver no mundo a partir
da maneira pela qual nos comunicamos, tanto de forma verbal quanto por outros
meios, na emissão e também na recepção da mensagem que queremos passar ou
receber.
A ideia é estabelecer um
vínculo com nosso interlocutor de compaixão e empatia, duas palavras-chaves
para nos relacionarmos de maneira não-violenta. A comunicação não-violenta
(CNV) é uma ‘forma de comunicação que nos leva a nos entregarmos de coração’,
nas palavras do autor do livro. Acreditando que é de nossa natureza gostar de dar e receber de forma compassiva, Marshall
buscou entender, durante a maior parte de sua vida, questões como: “O que
acontece que nos desliga de nossa natureza compassiva, levando-nos a nos
comportarmos de maneira violenta e baseada na exploração das outras pessoas? E,
inversamente, o que permite que algumas pessoas permaneçam ligadas à sua
natureza compassiva mesmo nas circunstâncias mais penosas?”. Por ter passado a
infância em um violento bairro de Detroit na década de 1940, essas questões
começaram a instigar a mente do autor. “Desde então, identifiquei uma abordagem
específica da comunicação – falar e ouvir – que nos leva a nos entregarmos de
coração, ligando-nos a nós mesmos e aos outros de maneira tal que permite que nossa
compaixão natural floresça. Denomino essa abordagem Comunicação Não-Violenta,
usando o termo ‘não-violência’ na mesma acepção que lhe atribuía Gandhi –
referindo-se a nosso estado compassivo natural quando a violência houver se
afastado do coração”.
O livro é rico em exemplos e histórias de
vida e, à medida que o autor vai apresentando as técnicas da CNV, vai relatando
também, em uma linguagem leve e descontraída, as suas próprias dificuldades em aplicar o
método, expondo a sua vulnerabilidade e, assim, enchendo-nos de empatia e nos
aproximando ainda mais de nossos próprios sentimentos e da importância de
expressá-los. “À medida que a CNV substitui nossos velhos padrões de defesa,
recuo ou ataque diante de julgamentos e críticas, vamos percebendo a nós e aos
outros, assim como nossas intenções e relacionamentos, por um enfoque novo”.
A aplicação do método de CNV consiste em
quatro componentes ou etapas: observação, sentimentos, necessidades e pedido.
A primeira etapa é observar atentamente as
palavras que são emanadas. A observação requer que estejamos presentes e
conscientes em cada situação, que saibamos da importância de respirar e de
pensar antes de falar. Praticando a auto-observação, podemos então identificar
os nossos sentimentos e necessidades subjacentes a cada fala e, assim, partir
para a última etapa que é o pedido.
Na hora de recebermos as palavras de outra
pessoa, também podemos aplicar o método, da mesma maneira. Portanto, as duas
partes da CNV são: expressar-se honestamente por meio dos quatro componentes e
receber com empatia por meio dos quatro componentes.
“Trata-se, portanto, de uma abordagem que
se aplica de maneira eficaz a todos os níveis de comunicação e a diversas situações: relacionamentos íntimos; famílias;
escolas; organizações e instituições; terapia e aconselhamento; negociações
diplomáticas e comerciais; disputas e conflitos de toda natureza”.
Na primeira etapa, observamos sem avaliar,
fazer críticas ou julgamentos. Por exemplo: "Zequinha não marcou nenhum
gol em vinte partidas", em vez de "Zequinha é péssimo jogador de
futebol”.
“O segundo componente necessário para nos
expressarmos são os sentimentos. Ao nos permitirmos ser vulneráveis por expressarmos nossos
sentimentos, ajudamos a resolver conflitos”. Por exemplo: “Estou triste porque
você está partindo”. Nessa etapa, é importante diferenciar sentimentos de
opiniões e pensamentos.
Na terceira etapa, identificamos quais às necessidades relacionadas ao sentimento. No exemplo acima, poderíamos expressar da seguinte forma: “Estou triste porque você está partindo. Tenho necessidade de ficar mais tempo em sua companhia”. Nessa etapa, é importante assumir a responsabilidade pelos sentimentos para que suas verdadeiras necessidades sejam reconhecidas. “Quando concentramos nossa atenção nos sentimentos e necessidades das outras pessoas, percebemos nossa humanidade em comum”.
Na terceira etapa, identificamos quais às necessidades relacionadas ao sentimento. No exemplo acima, poderíamos expressar da seguinte forma: “Estou triste porque você está partindo. Tenho necessidade de ficar mais tempo em sua companhia”. Nessa etapa, é importante assumir a responsabilidade pelos sentimentos para que suas verdadeiras necessidades sejam reconhecidas. “Quando concentramos nossa atenção nos sentimentos e necessidades das outras pessoas, percebemos nossa humanidade em comum”.
E, na última etapa, fazemos o pedido. Para
continuar usando o mesmo exemplo: “Estou triste porque você está partindo.
Tenho necessidade de ficar mais tempo em sua companhia. Você poderia ficar um
pouco mais?”. Nesta etapa, é importante que o pedido não soe como uma
exigência, pois isso pode gerar culpa na outra pessoa ou a necessidade dela se
defender, o que poderia propagar a violência em vez de evitá-la. Por isso, é
importante que o pedido seja no sentido de uma ação específica, positiva, pedir
o que queremos e não o que não queremos. Se o pedido for vago, abstrato,
ambíguo ou soar como uma exigência pode acabar afastando a pessoa em vez de
aproximá-la com compaixão.
Resumidamente, esses são os quatro
componentes da CNV. Pode parecer simples, mas conectar-se ao processo requer
prática e, principalmente, paciência. Tanto aprender o processo quanto aplicá-lo
leva tempo e devemos avançar em nosso próprio ritmo.
Os efeitos de praticar a CNV são sentidos
logo de início: a sensação é de ter permanecido dormindo por muito tempo e que
agora despertamos para algo que pode transformar nossas vidas e as vidas das
pessoas à nossa volta. O autoconhecimento proporcionado por essa ferramenta é
muito profundo e poucas coisas são mais satisfatórias que podermos nos conhecer
melhor e, assim, conhecer melhor o nosso mundo. “Conhece-te a ti mesmo”, já
dizia a máxima escrita no tempo de Apolo em Delfos, na Grécia. A CNV
possibilita a conexão com a essência da comunicação. Do latim comunicare, comunicação significa tornar
comum. Se a nossa essência é a compaixão, ora, o que então estamos tornando
comum quando nos comunicamos? Observar que nossas palavras podem machucar e
ferir ao invés de aproximar e confortar é, no mínimo, revelador. E uma vez que
iniciamos a viagem para o autoconhecimento, descobrimos que é um caminho sem
volta e queremos nos aprofundar cada vez mais, para que então alcemos um voo
ainda mais libertador rumo à nossa essência. “Marshall Rosenberg oferece
ferramentas das mais eficientes para cuidarmos da saúde e dos relacionamentos.
A CNV conecta a alma das pessoas, promovendo sua regeneração. É o elemento que
falta em tudo que fazemos”, diz Deepak Chopra, autor de As sete leis espirituais do sucesso.
Estar em contato com a CNV é um presente
que damos para nós mesmos, para nossa saúde e para a saúde de todas as nossas
relações. É daquelas ferramentas que dá vontade que todos conheçam o mais
rápido possível, para assim caminharmos em direção a mundo de paz e harmonia.
E, assim, cada um se tornando a mudança que deseja ver no mundo, o mundo verá
as incríveis transformações que estão por vir.
__________________________*Marcelo Marques é terapeuta integrativo com pós-graduação pela Unifesp e também pós-graduado em Linguagem, Cultura e Mídia pela Unesp/Bauru-SP. É também facilitador da Casa Midiática. Contato para novas turmas de CNV: 14 99767-3014 | cm.midiatica@gmail.com | Casa Midiática.