O entrevistado dessa semana tem dois pés no Jornalismo diário e mãos afoitas na Literatura. Autor do romance Parabala (lançado em 2002) e dono de uma trajetória jornalística que ultrapassa duas décadas, Márcio Antonio Blanco Cava - ou simplesmente Márcio ABC - é um dos jornalistas mais criativos e autênticos de que temos notícia no interior paulista.
Passou por emissoras de rádio, assessoria de comunicação, jornais impressos, deu aulas e tem no currículo a participação em dois projetos pra lá de ousados: Diário de Bauru (jornal que fez história na cidade pela independência política e pelos textos de alta qualidade publicados por repórteres e colunistas. O DB publicava, por exemplo, um caderno GLS semanalmente) e Jornal BOM DIA. Foi ele, aliás, quem montou a equipe de Bauru, responsável pelo lançamento do jornal na cidade, em novembro de 2005, o segundo da rede BOM DIA (o primeiro foi lançado no mesmo ano em São José do Rio Preto).
Desde 2008, Márcio ABC é diretor de redação da Rede BOM DIA de jornais (inclui praças em Jundiaí, Sorocaba, Rio Preto, Bauru, Marília e Fernandópolis. Juntas, as praças circulam mais de 30 mil exemplares nas cidades das sedes e regiões vizinhas). E, apesar da correria cotidiana, ele consegue ser comentarista da TV TEM e ainda atualizar seu site, lançado em 2002. Lá, publica contos, crônicas, novelas e outras ideias. Vale visitar. Tá tudo lá: vida, paixões e literatura das boas!
Na última quarta-feira, 12, por MSN, ABC dedicou, gentilmente, uma horinha de seu dia para bater um papo com a gente. Acompanhe:
Ficha técnica:
Nome completo: Márcio Antonio Blanco Cava
Pseudônimo: Márcio ABC
Idade: 45
Tempo de profissão: 26 anos
Onde trabalha: Jornal BOM DIA e faço comentários na TV TEM
Casado? Sim, com Fernanda Villas Bôas
Filhos? Uma filha de 16 anos
Signo? Áries
Blog da Casa/ Elaine de Sousa - Como você vê o Jornalismo Impresso praticado hoje no Brasil?
Márcio ABC - Vejo num estágio de certa indecisão. Isso falando de modo geral. Claro que há ótimos experimentos, casos em que a criatividade e a ousadia trazem um novo alento. Mas em termos gerais, o jornalismo impresso mudou muito pouco em sua essência. Muda-se a cara, muda-se o método, mas a essência permanece. E a essência é muito engessada ainda. Acho que a internet deixou o impresso numa terrível crise de identidade. Mas também tenho certeza de que essa crise passará e, em várias frentes, o impresso continuará com sua importância diante da opinião pública.
Blog da Casa/ Elaine de Sousa - O que você mudaria?
Márcio ABC - Bom, acho que há muitas mudanças a se fazer. Muitas delas certamente estão a caminho. Mas acho que a principal é fazer a diferença. Não adianta apenas repetir o que os veículos eletrônicos informam durante todo o dia. O impresso, em termos de agilidade, sempre será vencido. Ele só chega no dia seguinte. Então, não há outra maneira para a sobrevivência do impresso senão diferenciar-se por meio de uma cobertura que traga informações exclusivas, histórias diferentes das que já foram dadas, participação dos leitores e uma boa seleção do que realmente importa para o público. Hoje, você pega um portal de internet e lá tem tanta informação que as pessoas ficam desorientadas. As pessoas não têm tempo e nem interesse em ler tanta notícia, como diz aquela música do Caetano (risos).
Então, o impresso precisa cada vez mais aproximar-se do que o seu público realmente quer saber. Esse é um dos grandes desafios dos veículos de comunicação, mas muito mais do impresso. Porque o impresso tem uma limitação física que um portal de internet, por exemplo, não tem. Na internet, cabe tudo. No impresso, não. Quem busca um impresso, quer organização, quer edição, quer que o veículo atenda exatamente às suas expectativas. Na internet, o próprio usuário faz a seleção. No impresso, não. O leitor exige que o veículo o trate bem, quase de maneira personalizada. Claro que aqui há um exagero. Mas se fosse possível, o jornalismo personalizado seria o ideal para o impresso.
Blog da Casa/ Elaine de Sousa - Se pudesse voltar atrás, você estudaria Jornalismo?
Márcio ABC - Olha, estudaria sim. Não sei se estudaria para praticar, para seguir essa profissão – tão exigente e que suga completamente suas energias. Ou você se doa para o jornalismo ou não vai adiante. Então, não sei se eu repetiria essa dose. Mas faria jornalismo porque a faculdade de jornalismo ajuda muito na sua formação como cidadão, ela traz a você uma nova consciência numa fase importante da vida, que é a passagem final da adolescência para a juventude.
Blog da Casa/ Elaine de Sousa - Qual o futuro dos jornais em rede, como o BOM DIA?
Márcio ABC - O futuro dirá (risos). Bom, eu acho que é uma proposta que se junta a uma dessas que eu citei no início. Acho uma proposta nova, ousada e criativa. Mas o tempo de maturação de um jornal é muito longo. Você forma seu público aos poucos. Acho que é uma alternativa muito boa no sentido de transformar-se, além da produção local, numa grande agência de notícias. E ao mesmo tempo que você tem a preocupação local, como em qualquer veículo que tenta informar bem ao seu leitor, você busca também localizá-lo diante de fatos importantes que acontecem em cenários que não são locais. E para isso a rede garante também agilidade, economia e qualidade ao veículo.
Blog da Casa/ Elaine de Sousa - Literatura ou Jornalismo? Por quê?
Márcio ABC – hmmmmm.
Blog da Casa/ Elaine de Sousa – Te peguei!
Márcio ABC - Bom, vou ser bem sincero. Se eu pudesse escolher, eu escolheria a literatura. Porque eu gostaria de poder escrever literatura. Claro que para isso eu precisaria ser melhor nisso (risos). Eu não tenho essa qualidade. Tenho consciência disso. Mas, como eu disse, se eu pudesse escolher... Eu gostaria de atuar na literatura e trafegar no jornalismo. Mas o fato é que o jornalismo é que me sustenta. É só isso que
sei fazer na vida. Claro que eu gosto muito (de Jornalismo). Mas eu preferiria só enfiar a cabeça de vez em quando.
Blog da Casa/ Elaine de Sousa - Qual a maior “focada” que você já cometeu?
Márcio ABC – Nossa, acho que como todo mundo, já tive muitas... Bom, uma história engraçada, embora eu não saiba se ela se encaixa nesse gênero (risos), foi a seguinte:
Eu trabalhava na Vejinha (lembra quando a Veja tinha as Vejinhas?). E fui fazer uma matéria sobre uma equipe feminina de vôlei. Era um dia frio. Eu cheguei na quadra, as meninas todas lá batendo bola, animadas com a reportagem etc. e tal. Chegamos eu e o fotógrafo. E na hora de começar a falar com elas, me deu um treco e eu travei. Simplesmente não conseguia me mexer. Acho que me deu algo na coluna. Não sei se foi o frio, mas o fato é que precisaram me deitar no chão, me esticar, as meninas todas preocupadas, aquela roda de caras e bocas em cima de mim, o massagista me atendendo (risos)... Bem, foi um mico daqueles. Daí, tive que voltar outro dia para fazer matéria. Fui embora com a maior vergonha.
Blog da Casa/ Elaine de Sousa - Ah... mas aí foi incontrolável... Não foi exatamente uma focada...Um erro de principiante (risos).
Márcio ABC – Pois é...esse aí estou tentando lembrar. Já tive muitos erros, claro. Escrevi coisas que não deviam ser escritas, palavras erradas etc., mas essa grande focada, juro que me fugiu.
Blog da Casa/ Elaine de Sousa - Há algo que você já tenha ensinado na faculdade de Jornalismo e que hoje ache bobagem diante das exigências do mercado de trabalho? Aliás, você percebe muita distância entre o que é ensinado e o que a engrenagem do jornalismo diário exige?
Márcio ABC – Eu acho que a faculdade jamais deve tentar substituir o mercado de trabalho. Não acho que a faculdade sirva para isso. Acho que a faculdade precisa formar bem o sujeito. Dar a ele a noção clara dos parâmetros da profissão, incluindo aí, além das questões teóricas, as informações de mercado. Não adianta a faculdade querer montar uma redação e formar robôs. Aliás, esse é um dos grandes problemas da educação atual. Na maioria das vezes, o cara é preparado para passar no vestibular, para "vencer" a concorrência e por aí afora. Acho que a faculdade deve se preocupar em levar ao mercado de trabalho um profissional bem informado e bem formado. Claro que os laboratórios e a prática durante o curso são fundamentais. Mas há um limite. A teoria não pode ser simplesmente deixada de lado.
Quanto a algo que eu tenha ensinado, eu sempre procurei levar para dentro da faculdade, no pouco tempo em que fiz isso (uns três anos), uma noção correta do mercado de trabalho. Porque eu sou um profissional de mercado. Não adianta eu querer levar teoria para a faculdade. Aí é que está a necessidade de as faculdades mesclarem teoria e prática. Eu acho que há uma grande falha em boa parte das faculdades de jornalismo. Exige-se isso e aquilo do candidato a professor. Até aí tudo bem. Mas eu acho que deveria ser exigido título disso e daquilo para o professor de teoria. De outro lado, deveria estar o professor de prática. Esse precisa ser do mercado, precisa viver o mercado para poder passar algo ao estudante.
Muitas pessoas dizem "Ah, esse professor nunca entrou numa redação". E daí? Se a proposta dele for dar teoria, ele não precisa ter entrado numa redação. Agora, o que eu acredito é que, além da teoria, é preciso ter prática na faculdade. E aí deveriam entrar os profissionais de mercado, aqueles que vivem ou viveram nas redações. Em vez de um título de mestrado, deveria ser exigido anos de redação ou algo assim. E para os de teoria, aí sim, os títulos.
Blog da Casa/ Elaine de Sousa - O que você não tolera nas pessoas?
Márcio ABC – Eu não tolero desrespeito. E o desrespeito, na minha concepção, é algo amplo. Que pode ser desde o desrespeito do dia-a-dia entre, por exemplo, colegas de profissão, até o desrespeito à ética. Acho que é isso que eu não tolero de jeito nenhum. E há algo específico também que é o desrespeito à confiança.
Blog da Casa/ Elaine de Sousa - O que tem mais peso, conteúdo ou embalagem?
Márcio ABC – Hoje, nessa sociedade fútil que estamos criando de maneira exemplar (gargalhadas), a embalagem superou o conteúdo. Quero acreditar que ao menos uma boa parte das pessoas ainda privilegie o conteúdo, mas infelizmente o que se vê é exatamente o contrário. Uma pena, né?
Ping-pong
Amo - Além da minha família, a natureza e o sossego. (e ler, claro)
Odeio - Programas de futilidades
Medo - De que as pessoas que eu amo morram
Prazer - Várias coisas, como ler, transar, conversar com amigos, tomar vinho... Alisar minha cachorrinha quando ela toma banho.
Desafio - Escrever amanhã algo que dê prazer a alguém.
Conquista- O respeito de colegas que eu respeito.
Time do coração? Verdão.
Quem bate um bolão (no mundinho da Imprensa)? Fernanda Villas Bôas e Cristina Camargo.
Palavra: É tudo, tudo mesmo!
Livro de cabeceira - Bom, minha cabeceira tem uma pilha (risos). Sério mesmo. Gosto de muitos, mas sempre deixo lá Crime e Castigo (Fiódor Dostoiévski, 1821-1881).
Para os ouvidos - Uma língua...(gargalhadas)
@ - Um lembrete de que somos quase nada.
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12 comentários:
Tô gostando de ver essas entrevistas... agora fico curioso para saber quem será o próximo..hahaha!!!
bj
LÊ
Muito boa a entrevista desta semana, achei sincera e espontânea.
Gostei bastante desse novo tema que colocaram no blog. Legal para conhecermos um pouco mais dos profissionais da nossa cidade.
Esse Márcio... Para os ouvidos... uma língua!!! hihihihi! Essa é boa!
Curti o material... vou repassar...
abraços,
Carol
Gostei da entrevista co o Márcio. Eu o conheço internetemente, pois publico crônicas em seu site. É um bom sujeito, inteligente e íntegro. (Otávio Nunes, jornalista em S.Paulo)
Olá, Otávio! Obrigada pela visita!
abs
Boa noite !
Adorei o Blog da Casa Midiática!
Vocês tem algum endereço de e-mail que possamos entrar em contato?
Sou estudante de Jornalismo e estamos pretendendo montar um Blog, mas para isso gostariamos de algumas dicas.
Desde já muito Obrigada!
Parabéns pela entrevista, Elaine. Deliciosa, com perguntas muito interessantes. Márcio ABC é o cara mesmo. Sempre sensacional. Estou adorando o blog! Uma ótima ideia para acompanhar a Casa Midiática. Beijo grande, querida. No Márcio, meu carinho, saudade e admiração eterna.
Oi, Ana! Obrigada pela visita! Tome nota do nosso e-mail: casamidiatica@casamidiatica.com.br
abs
Euzinha, valeu! Apareça sempre por aqui! abs
Pôxa, nem assinei. É a Márcia Buzalaf, Laine e Fer, companheiras de BOM DIA. Visitem meu blog também. É simples, mas é de coração! rs.. Beijos nas duas. Parabéns pelo trabalho!
Márcia!!! Que bacana ter vc por aqui! Apareça sempre e vamos visitar seu blog também. bjs!
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